A sua cabeça é pobre - e isso não é mais um texto sobre mindset
Atualizado: 2 de mai. de 2024
Nos últimos dias, rolando no Instagram, uma imagem veio parar na minha tela. Um amigo, talvez conhecido, que há muito não via, estava - adivinhe - postando foto de um combo de bebidas em uma casa aqui de BH.
Não que deva existir algum problema nisso, claro que não. O curioso é que há menos de 3 meses ele se dizia "quebrado". E até onde o meu limitado horizonte de conhecimento alcança, alguém quebrado não compra nada de 500 reais - quem dirá um balde com 750ml de álcool e 3 ou 4 latinhas de energético.
Acontece que, segundo ele, agora ele ganha muito dinheiro. Ou melhor, segundo o que ele posta nas redes. Uma máquina de resultados, não? Aposto os meus dois braços que ele não está nem perto de alcançar um milhão de reais. Ou melhor, aposto as pernas também.
E nesse vai e vem, acompanhando de longe, me veio um questionamento, que posteriormente se tornou uma certeza: a nossa cabeça é muito pobre.
Nesse texto não vou entrar no mérito das pessoas em situação de vulnerabilidade ou que estão extremamente abaixo da linha mínima para viver com dignidade - apesar de ter conteúdo para dissertar uma bíblia inteira sobre. Esse texto é para você, classe média, que acha que por ter feito um trocado a mais agora está rico. Acredite em mim, você não está nem perto.
Esse amigo, talvez um conhecido, está trabalhando incessantemente para vender produtos digitais, entregues de forma online. Não vou entrar em muitos detalhes para preservar sua identidade (se você tá lendo isso: sim, esse texto é para você - mas talvez seja mais uma autorreflexão e auto percepção de mundo - então peço que leia com muito carinho e cuidado cada palavra)
A sua cabeça é pobre. A gente se contenta com muito pouco. Olha isso! Há menos de 3 meses você não tinha comida na mesa, e agora acha lindo (não só) pagar e (como também) postar foto de algo só não mais fútil que escada que dá pra parede.
Você se esqueceu o que são 500 reais? Esqueceu o valor disso? Esqueceu quanto (de verdade!) isso faz diferença? O quanto você se mataria para ter isso a mais na conta - há menos de 90 dias?
E agora, plim! Não é nada. Troco de bala. Algo a ser gasto na menor das importâncias da sua lista de prioridades.
Ah! Me esqueci, me desculpe. A foto. Eu tinha relevado ela. Na verdade ela é o mais importante, não é? Os outros precisam ver, acompanhar. Sei que o seu ego infla e se incendeia de ouvir "tão novo e já rico". Isso sim vale o preço pago, com certeza.
A grande questão aqui não é sobre onde ou como você gasta o seu dinheiro, nem onde ou como eu gasto o meu. Mas sobre como a gente se f*de para os outros verem. Para os outros sentirem. A vida é sobre isso, não? Sensações? Vivemos - definitivamente - para sentir.
Mas a vida nos acostumou a um tipo tão irrisório de dopamina que, sem ela, se sente morto.
Seja ela pelo prazer de abrir e fechar o Instagram, seja o prazer (mesmo que pelo prazo de quinze segundos) de ser reconhecido. E não importa se o somos ou não, em quinze segundos reinventamos a nossa personalidade.
O ponto é: há quanto tempo você vem se sacrificando pelos outros? Pelo que eles vão pensar de você, pelo que irão achar de você? Por como irão te ver, falar de você?
A real é que se f*da. E quando essa chavinha liga, nada te abala mais.
Eu gosto sim de tomar o melhor vinho, comer no melhor restaurante. Viajar para as melhores cidades e ficar nos melhores hotéis. Se tem uma coisa que eu acho que a maioria absoluta aqui concorda é isso. Mas e aí? Há quanto tempo você não faz isso por você?
Há dois anos essa tecla bate na minha cabeça. E há dois anos eu me esforço, diariamente, para não viver por mais ninguém que não seja eu mesmo.
Se eu vou pagar 250, 300, 400 reais em uma garrafa de vinho, que ela valha cada mL. Que eu saiba exatamente o que estou pegando, e tudo o que eu posso extrair de boas experiências sobre isso. E não tô falando de ser um expert em vinho. Até o beber no lugar certo, com as pessoas certas, é essencial.
Enfim, sei que parece um esporro. Mas repito: é uma autorreflexão.
Que a gente volte a viver por nós mesmos - e se preocupe menos com o quanto acham que a gente vale. Eu? Tenho certeza que sou inestimável. Seja no meio fio conversando a madrugada toda, seja no melhor restaurante de outro país. O cartão é à vista, aproximação. A experiência? Não tem essa opção no menu.