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Escore de Milles: avaliação da gravidade da febre puerperal

Foto do escritor: Carlos FelipeCarlos Felipe

Atualizado: 11 de dez. de 2024

A febre puerperal é uma complicação pós-parto potencialmente grave, caracterizada por febre persistente nas primeiras semanas após o parto, geralmente associada a infecções uterinas (endometrite) ou outras causas infecciosas no período pós-parto.


O escore de Milles é uma ferramenta clínica desenvolvida para ajudar médicos a avaliar a gravidade da febre puerperal e identificar pacientes que necessitam de intervenções mais agressivas, como antibioticoterapia de amplo espectro ou internação hospitalar.


Neste artigo, abordaremos de forma detalhada:

  • O que é o escore de Milles

  • Como ele é aplicado na prática clínica

  • As principais causas de febre puerperal

  • O manejo clínico baseado no escore

  • Dicas práticas para estudantes e profissionais de saúde



O que é o Escore de Milles?


O escore de Milles é uma escala clínica que avalia os sinais e sintomas de pacientes com febre puerperal para estimar a gravidade do quadro e orientar o manejo adequado.


Ele é utilizado para diferenciar casos leves, que podem ser tratados de forma ambulatorial, de casos graves, que requerem internação e intervenções agressivas.


O escore inclui uma combinação de parâmetros clínicos, laboratoriais e, em alguns casos, de imagem. Ele fornece uma pontuação que correlaciona a gravidade da condição com o risco de complicações, como sepse puerperal.



Critérios do Escore de Milles


Embora os detalhes possam variar ligeiramente entre os protocolos hospitalares, o escore de Milles avalia os seguintes parâmetros principais:


  1. Temperatura corporal:

    • < 38,5°C: 0 pontos

    • 38,5°C a 39,5°C: 1 ponto

    • > 39,5°C: 2 pontos


  2. Frequência cardíaca:

    • < 100 bpm: 0 pontos

    • 100 a 120 bpm: 1 ponto

    • > 120 bpm: 2 pontos


  3. Alterações no exame físico:

    • Ausência de sinais de infecção local: 0 pontos

    • Sinais de infecção leve (sensibilidade uterina ou secreção vaginal anormal): 1 ponto

    • Sinais de infecção grave (celulite, abscesso ou endometrite suspeita): 2 pontos


  4. Leucocitose (Hemograma):

    • < 12.000/mm³: 0 pontos

    • 12.000 a 15.000/mm³: 1 ponto

    • > 15.000/mm³: 2 pontos


  5. Proteína C Reativa (PCR):

    • < 10 mg/L: 0 pontos

    • 10 a 50 mg/L: 1 ponto

    • > 50 mg/L: 2 pontos


  6. Sinais de complicações sistêmicas (por exemplo, hipotensão, taquipneia, confusão mental):

    • Ausente: 0 pontos

    • Presente: 2 pontos



Interpretação do escore


A pontuação total do escore de Milles ajuda a estratificar a gravidade da febre puerperal e orientar o manejo clínico:


  • 0 a 3 Pontos: Leve

    • Geralmente associada a causas benignas, como retenção de leite ou infecção urinária não complicada.

    • Manejo ambulatorial, com monitoramento clínico e, se necessário, antibióticos orais.


  • 4 a 6 Pontos: Moderada

    • Suspeita de endometrite ou infecção pós-parto localizada.

    • Indica necessidade de internação hospitalar para monitoramento e antibioticoterapia intravenosa.


  • ≥ 7 Pontos: Grave

    • Sugere sepse puerperal ou infecção disseminada.

    • Requer internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), suporte hemodinâmico e investigação agressiva para identificar a fonte da infecção.


Paciente com termômetro na mão, indicando febre

Principais causas de febre puerperal


A febre puerperal pode ter diversas causas, que variam em gravidade e abordagem terapêutica.


As causas mais comuns incluem:


1. Endometrite puerperal


  • Inflamação do revestimento interno do útero devido à colonização bacteriana pós-parto.

  • Sinais: Febre persistente, dor uterina à palpação, secreção vaginal purulenta.

  • Patógenos Comuns: Streptococcus do grupo B, Escherichia coli e anaeróbios.



2. Infecções do trato urinário


  • Comum devido à cateterização durante o parto ou retenção urinária pós-parto.

  • Sinais: Disúria, dor suprapúbica, febre.



3. Infecção da ferida cirúrgica


  • Pode ocorrer após cesarianas ou episiotomias infectadas.

  • Sinais: Eritema, dor local, exsudato purulento.



4. Mastite puerperal


  • Infecção das glândulas mamárias, geralmente causada por Staphylococcus aureus.

  • Sinais: Febre, dor mamária unilateral, áreas endurecidas e eritematosas no seio.



5. Tromboflebite séptica pélvica

  • Formação de trombos infectados nas veias pélvicas.

  • Sinais: Febre alta persistente apesar de antibioticoterapia, dor abdominal.



Manejo clínico baseado no escore


O manejo da febre puerperal é baseado na gravidade do quadro, conforme determinado pelo escore de Milles.


1. Pacientes com escore leve (0-3 Pontos)


  • Abordagem ambulatorial:

    • Monitoramento domiciliar.

    • Antibióticos orais direcionados à causa suspeita (ex.: cefalexina para infecção urinária ou mastite leve).

    • Orientação para retornar ao hospital se os sintomas piorarem.



2. Pacientes com escore moderado (4-6 Pontos)


  • Abordagem hospitalar:

    • Internação para monitoramento.

    • Antibióticos intravenosos de amplo espectro (ex.: clindamicina + gentamicina para endometrite).

    • Realização de exames complementares (hemoculturas, ultrassonografia transvaginal).



3. Pacientes com escore grave (≥ 7 Pontos)


  • Abordagem em UTI:

    • Suporte hemodinâmico e ventilatório, se necessário.

    • Antibióticos de amplo espectro e ajuste com base nos resultados das culturas.

    • Avaliação por cirurgia para possível drenagem de abscessos ou histerectomia de emergência.


Dicas práticas para identificar e tratar febre puerperal


  1. Sempre considere a história obstétrica:


  2. Exames físicos e laboratoriais completos:

    • Investigue todas as possíveis fontes de infecção (útero, feridas, trato urinário, mamas).


  3. Reavalie frequentemente:

    • A febre puerperal pode evoluir rapidamente para sepse. Monitore sinais vitais e condições clínicas regularmente.


  4. Adapte o tratamento:

    • Ajuste os antibióticos com base nos resultados de cultura e na resposta clínica.


O escore de Milles é uma ferramenta valiosa para a estratificação do risco em pacientes com febre puerperal, permitindo uma abordagem clínica estruturada e eficaz.


Ele facilita a identificação de casos que necessitam de intervenções mais agressivas e ajuda a priorizar recursos em situações de emergência.


Para médicos e estudantes, o uso do escore de Milles associado a uma avaliação clínica detalhada pode melhorar os desfechos no manejo da febre puerperal, reduzindo o risco de complicações graves, como a sepse puerperal.

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