Escore de Milles: avaliação da gravidade da febre puerperal
Atualizado: 11 de dez. de 2024
A febre puerperal é uma complicação pós-parto potencialmente grave, caracterizada por febre persistente nas primeiras semanas após o parto, geralmente associada a infecções uterinas (endometrite) ou outras causas infecciosas no período pós-parto.
O escore de Milles é uma ferramenta clínica desenvolvida para ajudar médicos a avaliar a gravidade da febre puerperal e identificar pacientes que necessitam de intervenções mais agressivas, como antibioticoterapia de amplo espectro ou internação hospitalar.
Neste artigo, abordaremos de forma detalhada:
O que é o escore de Milles
Como ele é aplicado na prática clínica
As principais causas de febre puerperal
O manejo clínico baseado no escore
Dicas práticas para estudantes e profissionais de saúde
O que é o Escore de Milles?
O escore de Milles é uma escala clínica que avalia os sinais e sintomas de pacientes com febre puerperal para estimar a gravidade do quadro e orientar o manejo adequado.
Ele é utilizado para diferenciar casos leves, que podem ser tratados de forma ambulatorial, de casos graves, que requerem internação e intervenções agressivas.
O escore inclui uma combinação de parâmetros clínicos, laboratoriais e, em alguns casos, de imagem. Ele fornece uma pontuação que correlaciona a gravidade da condição com o risco de complicações, como sepse puerperal.
Critérios do Escore de Milles
Embora os detalhes possam variar ligeiramente entre os protocolos hospitalares, o escore de Milles avalia os seguintes parâmetros principais:
Temperatura corporal:
< 38,5°C: 0 pontos
38,5°C a 39,5°C: 1 ponto
> 39,5°C: 2 pontos
Frequência cardíaca:
< 100 bpm: 0 pontos
100 a 120 bpm: 1 ponto
> 120 bpm: 2 pontos
Alterações no exame físico:
Ausência de sinais de infecção local: 0 pontos
Sinais de infecção leve (sensibilidade uterina ou secreção vaginal anormal): 1 ponto
Sinais de infecção grave (celulite, abscesso ou endometrite suspeita): 2 pontos
Leucocitose (Hemograma):
< 12.000/mm³: 0 pontos
12.000 a 15.000/mm³: 1 ponto
> 15.000/mm³: 2 pontos
Proteína C Reativa (PCR):
< 10 mg/L: 0 pontos
10 a 50 mg/L: 1 ponto
> 50 mg/L: 2 pontos
Sinais de complicações sistêmicas (por exemplo, hipotensão, taquipneia, confusão mental):
Ausente: 0 pontos
Presente: 2 pontos
Interpretação do escore
A pontuação total do escore de Milles ajuda a estratificar a gravidade da febre puerperal e orientar o manejo clínico:
0 a 3 Pontos: Leve
Geralmente associada a causas benignas, como retenção de leite ou infecção urinária não complicada.
Manejo ambulatorial, com monitoramento clínico e, se necessário, antibióticos orais.
4 a 6 Pontos: Moderada
Suspeita de endometrite ou infecção pós-parto localizada.
Indica necessidade de internação hospitalar para monitoramento e antibioticoterapia intravenosa.
≥ 7 Pontos: Grave
Sugere sepse puerperal ou infecção disseminada.
Requer internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), suporte hemodinâmico e investigação agressiva para identificar a fonte da infecção.

Principais causas de febre puerperal
A febre puerperal pode ter diversas causas, que variam em gravidade e abordagem terapêutica.
As causas mais comuns incluem:
1. Endometrite puerperal
Inflamação do revestimento interno do útero devido à colonização bacteriana pós-parto.
Sinais: Febre persistente, dor uterina à palpação, secreção vaginal purulenta.
Patógenos Comuns: Streptococcus do grupo B, Escherichia coli e anaeróbios.
2. Infecções do trato urinário
Comum devido à cateterização durante o parto ou retenção urinária pós-parto.
Sinais: Disúria, dor suprapúbica, febre.
3. Infecção da ferida cirúrgica
Pode ocorrer após cesarianas ou episiotomias infectadas.
Sinais: Eritema, dor local, exsudato purulento.
4. Mastite puerperal
Infecção das glândulas mamárias, geralmente causada por Staphylococcus aureus.
Sinais: Febre, dor mamária unilateral, áreas endurecidas e eritematosas no seio.
5. Tromboflebite séptica pélvica
Formação de trombos infectados nas veias pélvicas.
Sinais: Febre alta persistente apesar de antibioticoterapia, dor abdominal.
Manejo clínico baseado no escore
O manejo da febre puerperal é baseado na gravidade do quadro, conforme determinado pelo escore de Milles.
1. Pacientes com escore leve (0-3 Pontos)
Abordagem ambulatorial:
Monitoramento domiciliar.
Antibióticos orais direcionados à causa suspeita (ex.: cefalexina para infecção urinária ou mastite leve).
Orientação para retornar ao hospital se os sintomas piorarem.
2. Pacientes com escore moderado (4-6 Pontos)
Abordagem hospitalar:
Internação para monitoramento.
Antibióticos intravenosos de amplo espectro (ex.: clindamicina + gentamicina para endometrite).
Realização de exames complementares (hemoculturas, ultrassonografia transvaginal).
3. Pacientes com escore grave (≥ 7 Pontos)
Abordagem em UTI:
Suporte hemodinâmico e ventilatório, se necessário.
Antibióticos de amplo espectro e ajuste com base nos resultados das culturas.
Avaliação por cirurgia para possível drenagem de abscessos ou histerectomia de emergência.
Dicas práticas para identificar e tratar febre puerperal
Sempre considere a história obstétrica:
Tipo de parto (vaginal ou cesariana), presença de episiotomia ou lacerações, uso de cateteres e duração do trabalho de parto.
Exames físicos e laboratoriais completos:
Investigue todas as possíveis fontes de infecção (útero, feridas, trato urinário, mamas).
Reavalie frequentemente:
A febre puerperal pode evoluir rapidamente para sepse. Monitore sinais vitais e condições clínicas regularmente.
Adapte o tratamento:
Ajuste os antibióticos com base nos resultados de cultura e na resposta clínica.
O escore de Milles é uma ferramenta valiosa para a estratificação do risco em pacientes com febre puerperal, permitindo uma abordagem clínica estruturada e eficaz.
Ele facilita a identificação de casos que necessitam de intervenções mais agressivas e ajuda a priorizar recursos em situações de emergência.
Para médicos e estudantes, o uso do escore de Milles associado a uma avaliação clínica detalhada pode melhorar os desfechos no manejo da febre puerperal, reduzindo o risco de complicações graves, como a sepse puerperal.