Índice de líquido amniótico (ILA): avaliação e importância no pré-natal
O Índice de Líquido Amniótico (ILA) é um parâmetro ultrassonográfico amplamente utilizado para avaliar o volume de líquido amniótico durante a gestação.
O líquido amniótico é essencial para o desenvolvimento fetal, funcionando como um amortecedor mecânico, regulador térmico e meio para o crescimento pulmonar e renal do feto.
Alterações no volume de líquido amniótico podem indicar problemas maternos ou fetais e orientar a conduta obstétrica.
Neste post, abordaremos:
O que é o ILA e como ele é medido
Os valores normais e anormais
As causas de oligodrâmnio e polidrâmnio
A importância clínica e o manejo de alterações no líquido amniótico
O que é o índice de líquido amniótico (ILA)?
O ILA é um método quantitativo usado para estimar o volume de líquido amniótico no útero durante a gestação, medido através de ultrassonografia.
O volume adequado de líquido amniótico é essencial para o bem-estar fetal, e alterações nesse volume podem ser um indicador de condições patológicas.
Método de avaliação
A avaliação do ILA é realizada pelo ultrassonografista com base em quatro medições:
O útero é dividido em quatro quadrantes imaginários:
Dois pelo eixo longitudinal (esquerda e direita do útero).
Dois pelo eixo transversal (acima e abaixo do umbigo).
Em cada quadrante, mede-se o maior bolsão vertical de líquido amniótico sem incluir partes fetais ou cordão umbilical.
O ILA é calculado somando os valores dos quatro bolsões.
O resultado é expresso em centímetros (cm) e comparado a valores de referência para determinar se o volume está normal, aumentado ou reduzido.
Valores normais e anormais do ILA
Os valores do ILA variam ao longo da gestação, mas há faixas de normalidade bem estabelecidas:
Normal: ILA entre 8 e 24 cm.
Oligodrâmnio: ILA < 5 cm.
Polidrâmnio: ILA > 24 cm.
Volume de líquido amniótico reduzido (Limítrofe): ILA entre 5 e 8 cm.
Fatores que influenciam ou alteram ILA
A idade gestacional impacta o volume de líquido amniótico, com um pico por volta de 32 semanas e uma leve redução após 40 semanas.
Alterações temporárias podem ocorrer devido a fatores como desidratação materna, mas são reversíveis com hidratação adequada.
Funções do líquido amniótico e a importância do ILA
O líquido amniótico desempenha várias funções críticas durante a gestação:
Proteção fetal: Amortece choques mecânicos, protegendo o feto de traumas.
Facilitação de movimentos fetais: Importante para o desenvolvimento musculoesquelético.
Crescimento pulmonar: O feto "inspira" e "expira" líquido amniótico, contribuindo para o desenvolvimento pulmonar.
Regulação térmica: Mantém a temperatura uterina constante.
Indicador de bem-estar fetal: Alterações no líquido amniótico podem sinalizar problemas renais, cardiovasculares ou de troca placentária.
Causas de alterações no ILA
1. Oligodrâmnio (ILA < 5 cm)
O oligodrâmnio é a redução do volume de líquido amniótico e pode estar associado a condições maternas, fetais ou placentárias.
Causas Comuns:
Insuficiência placentária: Causada por pré-eclâmpsia, hipertensão crônica ou diabetes mal controlado.
Restrição de crescimento intrauterino (CIUR): Associada à redistribuição do fluxo sanguíneo fetal ("centralização fetal").
Rotura prematura de membranas: Perda do líquido amniótico devido à rotura.
Anomalias fetais:
Malformações renais, como agenesia renal bilateral (síndrome de Potter).
Obstruções do trato urinário, como valva de uretra posterior.
Riscos para o Feto:
Compressão do cordão umbilical e hipóxia fetal.
Deformidades musculoesqueléticas.
Hipoplasia pulmonar, especialmente em casos graves e prolongados.
Conduta:
Aumentar a hidratação materna (oral ou intravenosa).
Monitoramento fetal intensivo (perfil biofísico fetal e cardiotocografia).
Parto prematuro pode ser indicado em casos graves.

2. Polidrâmnio (ILA > 24 cm)
O polidrâmnio é o aumento excessivo do volume de líquido amniótico e pode ser agudo ou crônico.
Causas Comuns:
Diabetes Mellitus Gestacional (DMG): A hiperglicemia materna leva à poliúria fetal.
Anomalias fetais:
Anencefalia ou fenda palatina, que comprometem a deglutição fetal.
Obstruções do trato digestivo, como atresia esofágica ou duodenal.
Gestações múltiplas: Especialmente em casos de síndrome de transfusão feto-fetal.
Infecções congênitas: Como citomegalovírus (CMV) e toxoplasmose.
Riscos para o feto:
Parto prematuro devido ao aumento da pressão uterina.
Prolapso de cordão umbilical.
Macrossomia e dificuldades no parto vaginal.
Conduta:
Avaliação detalhada da causa subjacente.
Drenagem terapêutica (amniocentese seriada) em casos graves.
Controle da glicemia materna no diabetes gestacional.
Importância clínica do ILA
A avaliação do ILA é essencial em várias situações obstétricas:
Monitoramento de gestações de alto risco:
Pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e RCIU exigem monitoramento contínuo do líquido amniótico para avaliar a suficiência placentária.
Identificação de sofrimento fetal:
O oligodrâmnio é frequentemente associado a hipóxia fetal e exige intervenção imediata.
Planejamento do parto:
Alterações no ILA podem determinar a necessidade de parto prematuro ou cesariana.
Prognóstico neonatal:
Alterações graves do ILA estão associadas a maiores riscos de morbidade neonatal, incluindo asfixia perinatal e malformações.
Métodos complementares na avaliação do líquido amniótico
Além do ILA, outros métodos podem ser utilizados para avaliar o líquido amniótico:
Maior bolsão de líquido:
Mede o maior bolsão vertical de líquido amniótico no útero.
Valores normais: 2-8 cm.
Pode ser usado em substituição ao ILA em gestações gemelares.
Perfil Biofísico Fetal (PBF):
Combina o ILA com parâmetros como movimentos fetais, tônus fetal e padrão respiratório para avaliar o bem-estar fetal.
Identifica alterações na frequência cardíaca fetal associadas a oligodrâmnio ou polidrâmnio.
O Índice de Líquido Amniótico (ILA) é uma ferramenta indispensável na prática obstétrica, permitindo identificar alterações no volume de líquido amniótico que podem indicar complicações maternas ou fetais. A avaliação regular do ILA, especialmente em gestações de alto risco, é fundamental para garantir o bem-estar do feto e planejar o manejo adequado.
Compreender as causas e implicações do oligodrâmnio e do polidrâmnio ajuda médicos e estudantes de medicina a reconhecer rapidamente sinais de alerta e adotar condutas eficazes para melhorar os desfechos perinatais.