Eclâmpsia: entendendo a complicação gestacional
A eclâmpsia é uma complicação grave da pré-eclâmpsia, caracterizada pela ocorrência de convulsões tônico-clônicas generalizadas não atribuídas a outras condições neurológicas em gestantes, puérperas ou parturientes.
Representa uma emergência obstétrica, com risco significativo de morbidade e mortalidade materna e fetal.
Neste post, exploraremos:
O que é eclâmpsia e como ela ocorre.
Suas manifestações clínicas.
Diagnóstico e manejo imediato.
Estratégias de prevenção.
O que é a eclâmpsia?
A eclâmpsia é definida como a ocorrência de convulsões generalizadas em pacientes com diagnóstico de pré-eclâmpsia, geralmente acompanhadas de outros sinais de disfunção orgânica, como hipertensão, cefaleia intensa e alterações visuais.
Pode ocorrer em qualquer momento da gestação, mas é mais comum no terceiro trimestre, durante o parto ou no período pós-parto imediato.
Fisiopatologia da eclâmpsia
A fisiopatologia da eclâmpsia está relacionada à disfunção endotelial sistêmica e à insuficiência placentária, resultando em:
Disfunção endotelial e hipertensão
A liberação de fatores antiangiogênicos, como o sFlt-1, leva à vasoconstrição, aumento da permeabilidade vascular e hipertensão arterial severa.
Edema cerebral e vasoespasmo
A combinação de disfunção endotelial, hipertensão e disfunção autoreguladora cerebral provoca edema vasogênico e isquemia cerebral, predispondo à convulsão.
Inflamação sistêmica e estresse oxidativo
Fatores inflamatórios exacerbados agravam a disfunção vascular e o comprometimento neurológico.
Manifestações clínicas
1. Convulsões
Tônico-clônicas generalizadas: Contrações musculares simétricas e generalizadas, seguidas de relaxamento.
Frequentemente precedidas por pródromos, como:
Cefaleia intensa e persistente.
Distúrbios visuais: Visão turva, escotomas.
Dor epigástrica ou em hipocôndrio direito: Indicando envolvimento hepático.
2. Alterações sistêmicas
Hipertensão arterial severa: Geralmente PA ≥ 160/110 mmHg.
Alterações no estado mental: Confusão, agitação ou coma pós-ictal.
Sinais de pré-eclâmpsia grave:
Proteinúria significativa.
Trombocitopenia.
Disfunção hepática e renal.

Complicações da eclâmpsia
A eclâmpsia pode causar uma série de complicações graves:
1. Maternas
Edema pulmonar: Secundário à sobrecarga hídrica ou disfunção cardíaca.
Descolamento prematuro de placenta (DPP): Aumento da morbidade fetal.
Hemorragia intracraniana: Associada à hipertensão severa.
Síndrome HELLP: Complicação frequente e potencialmente fatal.
2. Fetais
Restrição de crescimento intrauterino (CIUR): Insuficiência placentária crônica.
Prematuridade: Resultante da necessidade de interrupção precoce da gestação.
Óbito Fetal: Em casos de descolamento de placenta ou sofrimento fetal agudo.
Diagnóstico
O diagnóstico de eclâmpsia é clínico, baseado na presença de convulsões em pacientes com pré-eclâmpsia.
Critérios diagnósticos
Convulsões tônico-clônicas generalizadas em gestantes ou puérperas.
Ausência de outras causas neurológicas (ex.: epilepsia, AVC, tumores).
Sinais de pré-eclâmpsia: hipertensão, proteinúria, disfunção orgânica.
Exames complementares
Laboratoriais:
Hemograma (trombocitopenia).
Função renal e hepática (ureia, creatinina, TGO/TGP).
Coagulograma (avaliação para CIVD).
Imagem:
Tomografia ou ressonância magnética cerebral em casos atípicos, para excluir outras causas.
Manejo da eclâmpsia
A eclâmpsia é uma emergência obstétrica que exige intervenções rápidas para estabilizar a mãe e proteger o feto.
1. Estabilização inicial
Proteção de vias aéreas: Garantir a oxigenação adequada.
Prevenção de traumas: Posicionar a paciente em decúbito lateral esquerdo para evitar aspiração.
Oxigenoterapia: Suplementar em caso de hipoxemia.
2. Controle de Convulsões
Sulfato de Magnésio: Fármaco de escolha para prevenção e controle de convulsões.
Dose de ataque: 4-6 g IV em 15-20 minutos.
Manutenção: 1-2 g/h IV por 24 horas após a última convulsão.
Monitorar sinais de toxicidade (ex.: depressão respiratória, reflexos abolidos).
3. Controle da pressão arterial
Indicado em hipertensão severa (PA ≥ 160/110 mmHg).
Medicamentos de primeira linha:
Hidralazina IV.
Labetalol IV.
Nifedipina oral (em contextos não emergenciais).
4. Interrupção da Gestação
O parto é a única cura definitiva para a eclâmpsia.
Idade gestacional ≥ 34 Semanas: Interrupção imediata, geralmente por cesariana.
Idade gestacional < 34 Semanas:
Uso de corticosteroides (betametasona ou dexametasona) para maturação pulmonar fetal.
Prolongar a gestação, se possível, em ambiente de UTI materna e com monitoramento fetal rigoroso.
Prevenção
A prevenção da eclâmpsia é baseada no manejo adequado da pré-eclâmpsia:
Monitoramento regular:
Medição da pressão arterial e exames laboratoriais em gestantes de alto risco.
Uso de Sulfato de Magnésio:
Profilático em pacientes com pré-eclâmpsia grave ou durante o trabalho de parto.
AAS em baixa dose:
Indicado em pacientes com fatores de risco para pré-eclâmpsia.
A eclâmpsia é uma complicação crítica da gestação, exigindo diagnóstico imediato e manejo agressivo. Intervenções rápidas para estabilização materna, controle de convulsões e interrupção da gestação são fundamentais para prevenir complicações graves e melhorar os desfechos materno-fetais.
Para médicos e estudantes, é essencial reconhecer os sinais de alerta da eclâmpsia e estar preparado para agir rapidamente, garantindo a segurança da mãe e do bebê.