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Eclâmpsia: entendendo a complicação gestacional

Foto do escritor: Carlos FelipeCarlos Felipe

A eclâmpsia é uma complicação grave da pré-eclâmpsia, caracterizada pela ocorrência de convulsões tônico-clônicas generalizadas não atribuídas a outras condições neurológicas em gestantes, puérperas ou parturientes.


Representa uma emergência obstétrica, com risco significativo de morbidade e mortalidade materna e fetal.


Neste post, exploraremos:

  • O que é eclâmpsia e como ela ocorre.

  • Suas manifestações clínicas.

  • Diagnóstico e manejo imediato.

  • Estratégias de prevenção.



O que é a eclâmpsia?


A eclâmpsia é definida como a ocorrência de convulsões generalizadas em pacientes com diagnóstico de pré-eclâmpsia, geralmente acompanhadas de outros sinais de disfunção orgânica, como hipertensão, cefaleia intensa e alterações visuais.


Pode ocorrer em qualquer momento da gestação, mas é mais comum no terceiro trimestre, durante o parto ou no período pós-parto imediato.



Fisiopatologia da eclâmpsia


A fisiopatologia da eclâmpsia está relacionada à disfunção endotelial sistêmica e à insuficiência placentária, resultando em:


  1. Disfunção endotelial e hipertensão

    • A liberação de fatores antiangiogênicos, como o sFlt-1, leva à vasoconstrição, aumento da permeabilidade vascular e hipertensão arterial severa.


  2. Edema cerebral e vasoespasmo

    • A combinação de disfunção endotelial, hipertensão e disfunção autoreguladora cerebral provoca edema vasogênico e isquemia cerebral, predispondo à convulsão.


  3. Inflamação sistêmica e estresse oxidativo

    • Fatores inflamatórios exacerbados agravam a disfunção vascular e o comprometimento neurológico.



Manifestações clínicas


1. Convulsões

  • Tônico-clônicas generalizadas: Contrações musculares simétricas e generalizadas, seguidas de relaxamento.


  • Frequentemente precedidas por pródromos, como:

    • Cefaleia intensa e persistente.

    • Distúrbios visuais: Visão turva, escotomas.

    • Dor epigástrica ou em hipocôndrio direito: Indicando envolvimento hepático.



2. Alterações sistêmicas

  • Hipertensão arterial severa: Geralmente PA ≥ 160/110 mmHg.


  • Alterações no estado mental: Confusão, agitação ou coma pós-ictal.


  • Sinais de pré-eclâmpsia grave:

    • Proteinúria significativa.

    • Trombocitopenia.

    • Disfunção hepática e renal.


Profissional saúde fazendo ultrassonografia obstétrica.

Complicações da eclâmpsia


A eclâmpsia pode causar uma série de complicações graves:


1. Maternas



2. Fetais

  • Restrição de crescimento intrauterino (CIUR): Insuficiência placentária crônica.

  • Prematuridade: Resultante da necessidade de interrupção precoce da gestação.

  • Óbito Fetal: Em casos de descolamento de placenta ou sofrimento fetal agudo.



Diagnóstico


O diagnóstico de eclâmpsia é clínico, baseado na presença de convulsões em pacientes com pré-eclâmpsia.



Critérios diagnósticos

  • Convulsões tônico-clônicas generalizadas em gestantes ou puérperas.

  • Ausência de outras causas neurológicas (ex.: epilepsia, AVC, tumores).

  • Sinais de pré-eclâmpsia: hipertensão, proteinúria, disfunção orgânica.



Exames complementares

  • Laboratoriais:

    • Hemograma (trombocitopenia).

    • Função renal e hepática (ureia, creatinina, TGO/TGP).

    • Coagulograma (avaliação para CIVD).


  • Imagem:

    • Tomografia ou ressonância magnética cerebral em casos atípicos, para excluir outras causas.



Manejo da eclâmpsia


A eclâmpsia é uma emergência obstétrica que exige intervenções rápidas para estabilizar a mãe e proteger o feto.


1. Estabilização inicial

  • Proteção de vias aéreas: Garantir a oxigenação adequada.


  • Prevenção de traumas: Posicionar a paciente em decúbito lateral esquerdo para evitar aspiração.


  • Oxigenoterapia: Suplementar em caso de hipoxemia.



2. Controle de Convulsões

  • Sulfato de Magnésio: Fármaco de escolha para prevenção e controle de convulsões.

    • Dose de ataque: 4-6 g IV em 15-20 minutos.

    • Manutenção: 1-2 g/h IV por 24 horas após a última convulsão.


  • Monitorar sinais de toxicidade (ex.: depressão respiratória, reflexos abolidos).



3. Controle da pressão arterial

  • Indicado em hipertensão severa (PA ≥ 160/110 mmHg).


  • Medicamentos de primeira linha:

    • Hidralazina IV.

    • Labetalol IV.

    • Nifedipina oral (em contextos não emergenciais).



4. Interrupção da Gestação

  • O parto é a única cura definitiva para a eclâmpsia.


  • Idade gestacional ≥ 34 Semanas: Interrupção imediata, geralmente por cesariana.


  • Idade gestacional < 34 Semanas:

    • Uso de corticosteroides (betametasona ou dexametasona) para maturação pulmonar fetal.

    • Prolongar a gestação, se possível, em ambiente de UTI materna e com monitoramento fetal rigoroso.



Prevenção


A prevenção da eclâmpsia é baseada no manejo adequado da pré-eclâmpsia:


  1. Monitoramento regular:

    • Medição da pressão arterial e exames laboratoriais em gestantes de alto risco.

  2. Uso de Sulfato de Magnésio:

    • Profilático em pacientes com pré-eclâmpsia grave ou durante o trabalho de parto.

  3. AAS em baixa dose:

    • Indicado em pacientes com fatores de risco para pré-eclâmpsia.


A eclâmpsia é uma complicação crítica da gestação, exigindo diagnóstico imediato e manejo agressivo. Intervenções rápidas para estabilização materna, controle de convulsões e interrupção da gestação são fundamentais para prevenir complicações graves e melhorar os desfechos materno-fetais.


Para médicos e estudantes, é essencial reconhecer os sinais de alerta da eclâmpsia e estar preparado para agir rapidamente, garantindo a segurança da mãe e do bebê.

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