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Escala de Ferriman-Gallwey: avaliação do hirsutismo em mulheres

Foto do escritor: Carlos FelipeCarlos Felipe

A escala de Ferriman-Gallwey é um método amplamente utilizado para avaliar e classificar o hirsutismo em mulheres, que é definido como o crescimento excessivo de pelos terminais em áreas do corpo sensíveis à ação dos andrógenos.


Este crescimento ocorre em padrões masculinos, como no rosto, tórax e abdome, e pode ser um sinal de condições subjacentes relacionadas ao aumento dos níveis de andrógenos ou à sensibilidade dos folículos pilosos.


Neste post, abordaremos a origem, aplicação, interpretação e as limitações da escala de Ferriman-Gallwey, além de discutir condições relacionadas ao hirsutismo e o manejo clínico da condição.



O que é a escala de Ferriman-Gallwey?


Desenvolvida em 1961 por David Ferriman e J. D. Gallwey, como toda escala, esta foi criada e desenvolvida para fornecer um método padrão de quantificação do hirsutismo em mulheres.


Ela avalia o crescimento de pelos em nove áreas do corpo consideradas sensíveis à ação dos andrógenos.


Cada área recebe uma pontuação de 0 a 4, onde:

  • 0: Sem crescimento de pelos terminais.

  • 4: Crescimento extenso, semelhante ao padrão masculino.



As nove áreas avaliadas pela escala incluem:

  1. Lábio superior

  2. Queixo

  3. Tórax

  4. Abdome superior

  5. Abdome inferior

  6. Região lombar

  7. Coxas

  8. Braços superiores

  9. Costas


A pontuação total é calculada somando os escores de todas as áreas, com um valor máximo possível de 36 pontos.


Imagem que demonstra o texto acima de forma visual, com imagens que demonstram o crescimento de pêlos em regiões de acordo com a pontuação.
Fonte: Hirsutismo diagnóstico, SBD.

Interpretação da escala de Ferriman-Gallwey


A pontuação total da escala é utilizada para classificar a gravidade do hirsutismo e determinar se há necessidade de investigação adicional.


  • Pontuação ≤ 8: Considerado normal para a maioria das populações. Não há hirsutismo clínico.

  • Pontuação entre 9-15: Hirsutismo leve.

  • Pontuação entre 16-25: Hirsutismo moderado.

  • Pontuação ≥ 26: Hirsutismo grave.



Importância da variabilidade étnica


A interpretação da escala pode variar entre populações devido a diferenças étnicas e genéticas no padrão de crescimento de pelos.


Por exemplo:

  • Mulheres de origem asiática e africana geralmente apresentam menor densidade de pelos terminais.

  • Mulheres do Oriente Médio, Mediterrâneo e América Latina tendem a ter escores naturalmente mais altos, mesmo sem condições patológicas.



Portanto, a avaliação deve levar em conta as características individuais e o contexto étnico da paciente.



Condições relacionadas ao hirsutismo

O hirsutismo pode ser causado por uma série de condições médicas, sendo algumas das mais comuns:




  • Descrição: A SOP é a causa mais frequente de hirsutismo, associada à disfunção ovariana e ao aumento dos níveis de andrógenos.

  • Outros sintomas: Acne, irregularidade menstrual, infertilidade e resistência à insulina.

  • Diagnóstico complementar: Ultrassonografia transvaginal e avaliação hormonal (testosterona, LH/FSH).



2. Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC)


  • Descrição: Condição causada por deficiência enzimática na síntese de cortisol, levando ao aumento compensatório dos andrógenos.

  • Outros sintomas: Virilização em mulheres e hipertensão (em algumas formas).

  • Diagnóstico complementar: Medição de 17-hidroxiprogesterona e testes genéticos.



3. Tumores Secretores de Andrógenos


  • Descrição: Tumores ovarianos ou adrenais que produzem quantidades excessivas de andrógenos, causando hirsutismo rápido e progressivo.

  • Outros sintomas: Virilização grave, voz mais grave e aumento do clitóris.

  • Diagnóstico complementar: Imagens de tomografia computadorizada ou ressonância magnética.



4. Síndrome de Cushing


  • Descrição: Excesso de cortisol causado por disfunção da glândula adrenal ou uso de corticosteróides.

  • Outros sintomas: Obesidade central, estrias violáceas e fragilidade capilar.

  • Diagnóstico complementar: Teste de supressão com dexametasona.



5. Idiopático


  • Descrição: Em cerca de 10% a 15% dos casos, o hirsutismo não está associado a uma causa identificável. Nesses casos, acredita-se que haja maior sensibilidade dos folículos pilosos aos andrógenos.



Avaliação clínica


A avaliação do hirsutismo vai além da escala de Ferriman-Gallwey. Hoje, por exemplo, já se fala em "Ferriman-Gallwey modificada", por exemplo.


Uma ideia para começar além da escala é:


  1. História clínica detalhada

    • Idade de início do hirsutismo.

    • Progressão dos sintomas.

    • Presença de irregularidades menstruais, infertilidade ou ganho de peso.

    • Uso de medicamentos, como anabolizantes ou anticoncepcionais.


  2. Exame físico

    • Avaliação de outros sinais de virilização, como acne grave, alopecia androgenética e aumento do clitóris.

    • Medição do índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal para identificar resistência à insulina.


  3. Exames laboratoriais

    • Testosterona total e livre.

    • Sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S).

    • 17-hidroxiprogesterona (para rastrear hiperplasia adrenal congênita).

    • Hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH).


  4. Exames de imagem

    • Ultrassonografia pélvica: Útil para avaliar SOP.

    • Ressonância magnética ou tomografia: Indicado para investigação de tumores.



Tratamento

O tratamento do hirsutismo depende da causa subjacente e pode incluir intervenções farmacológicas, não farmacológicas e estéticas.


1. Tratamento farmacológico


  • Anticoncepcionais orais combinados (COC): Primeira linha para pacientes com SOP e hirsutismo leve a moderado. Reduzem os níveis de andrógenos e promovem a regulação menstrual.


  • Antiandrógenos:

    • Espironolactona: Inibe a ação dos andrógenos nos folículos pilosos.

    • Finasterida: Bloqueia a conversão de testosterona em di-hidrotestosterona (DHT).

    • Flutamida: Antiandrógeno potente, mas com maior risco de toxicidade hepática.


  • Metformina: Indicada em pacientes com resistência à insulina e SOP.



2. Tratamento Estético


  • Depilação a laser ou fotodepilação: Métodos de remoção de pelos mais duradouros, eficazes em combinação com terapia hormonal.


  • Clareamento ou depilação convencional: Indicado para hirsutismo leve.



3. Mudanças no estilo de vida


  • Perda de peso em pacientes obesas pode reduzir os níveis de andrógenos e melhorar os sintomas.



4. Tratamento de Causas Subjacentes


  • Tumores secretores de andrógenos ou doenças adrenais exigem tratamento cirúrgico ou medicamentoso específico.



Limitações da escala

Embora a escala de Ferriman-Gallwey seja amplamente utilizada, como toda escala, ela possui limitações:


  • Subjetividade: A pontuação pode variar entre diferentes avaliadores.


  • Não avalia todos os fatores: Não considera a densidade ou espessura dos pelos, nem a percepção da paciente sobre o impacto estético.


  • Fatores étnicos, familiares ou pessoais: Diferenças genéticas no padrão de crescimento de pelos podem influenciar os escores.


A escala de Ferriman-Gallwey é uma ferramenta valiosa para a avaliação do hirsutismo, ajudando a identificar sua gravidade e guiar a investigação clínica.


No entanto, sua aplicação deve ser combinada com uma abordagem abrangente que inclua avaliação hormonal, investigação de causas subjacentes e intervenção terapêutica.


O tratamento do hirsutismo é multidisciplinar e deve ser individualizado, considerando os sintomas, as expectativas da paciente e os resultados dos exames complementares.


Com uma avaliação cuidadosa e abordagem adequada, é possível não apenas controlar os sintomas do hirsutismo, mas também melhorar a qualidade de vida das pacientes.

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