Escala de Ferriman-Gallwey: avaliação do hirsutismo em mulheres
A escala de Ferriman-Gallwey é um método amplamente utilizado para avaliar e classificar o hirsutismo em mulheres, que é definido como o crescimento excessivo de pelos terminais em áreas do corpo sensíveis à ação dos andrógenos.
Este crescimento ocorre em padrões masculinos, como no rosto, tórax e abdome, e pode ser um sinal de condições subjacentes relacionadas ao aumento dos níveis de andrógenos ou à sensibilidade dos folículos pilosos.
Neste post, abordaremos a origem, aplicação, interpretação e as limitações da escala de Ferriman-Gallwey, além de discutir condições relacionadas ao hirsutismo e o manejo clínico da condição.
O que é a escala de Ferriman-Gallwey?
Desenvolvida em 1961 por David Ferriman e J. D. Gallwey, como toda escala, esta foi criada e desenvolvida para fornecer um método padrão de quantificação do hirsutismo em mulheres.
Ela avalia o crescimento de pelos em nove áreas do corpo consideradas sensíveis à ação dos andrógenos.
Cada área recebe uma pontuação de 0 a 4, onde:
0: Sem crescimento de pelos terminais.
4: Crescimento extenso, semelhante ao padrão masculino.
As nove áreas avaliadas pela escala incluem:
Lábio superior
Queixo
Tórax
Abdome superior
Abdome inferior
Região lombar
Coxas
Braços superiores
Costas
A pontuação total é calculada somando os escores de todas as áreas, com um valor máximo possível de 36 pontos.

Interpretação da escala de Ferriman-Gallwey
A pontuação total da escala é utilizada para classificar a gravidade do hirsutismo e determinar se há necessidade de investigação adicional.
Pontuação ≤ 8: Considerado normal para a maioria das populações. Não há hirsutismo clínico.
Pontuação entre 9-15: Hirsutismo leve.
Pontuação entre 16-25: Hirsutismo moderado.
Pontuação ≥ 26: Hirsutismo grave.
Importância da variabilidade étnica
A interpretação da escala pode variar entre populações devido a diferenças étnicas e genéticas no padrão de crescimento de pelos.
Por exemplo:
Mulheres de origem asiática e africana geralmente apresentam menor densidade de pelos terminais.
Mulheres do Oriente Médio, Mediterrâneo e América Latina tendem a ter escores naturalmente mais altos, mesmo sem condições patológicas.
Portanto, a avaliação deve levar em conta as características individuais e o contexto étnico da paciente.
Condições relacionadas ao hirsutismo
O hirsutismo pode ser causado por uma série de condições médicas, sendo algumas das mais comuns:
Descrição: A SOP é a causa mais frequente de hirsutismo, associada à disfunção ovariana e ao aumento dos níveis de andrógenos.
Outros sintomas: Acne, irregularidade menstrual, infertilidade e resistência à insulina.
Diagnóstico complementar: Ultrassonografia transvaginal e avaliação hormonal (testosterona, LH/FSH).
2. Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC)
Descrição: Condição causada por deficiência enzimática na síntese de cortisol, levando ao aumento compensatório dos andrógenos.
Outros sintomas: Virilização em mulheres e hipertensão (em algumas formas).
Diagnóstico complementar: Medição de 17-hidroxiprogesterona e testes genéticos.
3. Tumores Secretores de Andrógenos
Descrição: Tumores ovarianos ou adrenais que produzem quantidades excessivas de andrógenos, causando hirsutismo rápido e progressivo.
Outros sintomas: Virilização grave, voz mais grave e aumento do clitóris.
Diagnóstico complementar: Imagens de tomografia computadorizada ou ressonância magnética.
4. Síndrome de Cushing
Descrição: Excesso de cortisol causado por disfunção da glândula adrenal ou uso de corticosteróides.
Outros sintomas: Obesidade central, estrias violáceas e fragilidade capilar.
Diagnóstico complementar: Teste de supressão com dexametasona.
5. Idiopático
Descrição: Em cerca de 10% a 15% dos casos, o hirsutismo não está associado a uma causa identificável. Nesses casos, acredita-se que haja maior sensibilidade dos folículos pilosos aos andrógenos.
Avaliação clínica
A avaliação do hirsutismo vai além da escala de Ferriman-Gallwey. Hoje, por exemplo, já se fala em "Ferriman-Gallwey modificada", por exemplo.
Uma ideia para começar além da escala é:
História clínica detalhada
Idade de início do hirsutismo.
Progressão dos sintomas.
Presença de irregularidades menstruais, infertilidade ou ganho de peso.
Uso de medicamentos, como anabolizantes ou anticoncepcionais.
Exame físico
Avaliação de outros sinais de virilização, como acne grave, alopecia androgenética e aumento do clitóris.
Medição do índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal para identificar resistência à insulina.
Exames laboratoriais
Testosterona total e livre.
Sulfato de deidroepiandrosterona (DHEA-S).
17-hidroxiprogesterona (para rastrear hiperplasia adrenal congênita).
Hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo-estimulante (FSH).
Exames de imagem
Ultrassonografia pélvica: Útil para avaliar SOP.
Ressonância magnética ou tomografia: Indicado para investigação de tumores.
Tratamento
O tratamento do hirsutismo depende da causa subjacente e pode incluir intervenções farmacológicas, não farmacológicas e estéticas.
1. Tratamento farmacológico
Anticoncepcionais orais combinados (COC): Primeira linha para pacientes com SOP e hirsutismo leve a moderado. Reduzem os níveis de andrógenos e promovem a regulação menstrual.
Antiandrógenos:
Espironolactona: Inibe a ação dos andrógenos nos folículos pilosos.
Finasterida: Bloqueia a conversão de testosterona em di-hidrotestosterona (DHT).
Flutamida: Antiandrógeno potente, mas com maior risco de toxicidade hepática.
Metformina: Indicada em pacientes com resistência à insulina e SOP.
2. Tratamento Estético
Depilação a laser ou fotodepilação: Métodos de remoção de pelos mais duradouros, eficazes em combinação com terapia hormonal.
Clareamento ou depilação convencional: Indicado para hirsutismo leve.
3. Mudanças no estilo de vida
Perda de peso em pacientes obesas pode reduzir os níveis de andrógenos e melhorar os sintomas.
4. Tratamento de Causas Subjacentes
Tumores secretores de andrógenos ou doenças adrenais exigem tratamento cirúrgico ou medicamentoso específico.
Limitações da escala
Embora a escala de Ferriman-Gallwey seja amplamente utilizada, como toda escala, ela possui limitações:
Subjetividade: A pontuação pode variar entre diferentes avaliadores.
Não avalia todos os fatores: Não considera a densidade ou espessura dos pelos, nem a percepção da paciente sobre o impacto estético.
Fatores étnicos, familiares ou pessoais: Diferenças genéticas no padrão de crescimento de pelos podem influenciar os escores.
A escala de Ferriman-Gallwey é uma ferramenta valiosa para a avaliação do hirsutismo, ajudando a identificar sua gravidade e guiar a investigação clínica.
No entanto, sua aplicação deve ser combinada com uma abordagem abrangente que inclua avaliação hormonal, investigação de causas subjacentes e intervenção terapêutica.
O tratamento do hirsutismo é multidisciplinar e deve ser individualizado, considerando os sintomas, as expectativas da paciente e os resultados dos exames complementares.
Com uma avaliação cuidadosa e abordagem adequada, é possível não apenas controlar os sintomas do hirsutismo, mas também melhorar a qualidade de vida das pacientes.