Tudo sobre Eletrocardiograma: guia para profissionais da saúde
Atualizado: 13 de nov. de 2024
O eletrocardiograma (ECG) é uma ferramenta essencial na prática médica, permitindo avaliar a atividade elétrica do coração e identificar possíveis alterações no ritmo e na condução cardíaca. Para estudantes de medicina e médicos, a interpretação correta do ECG é fundamental para o diagnóseletrocardiograma o tratamento preciso de diversas condições cardíacas.
Neste guia completo, vamos abordar os principais aspectos do eletrocardiograma, incluindo a anatomia do coração, a representação gráfica do ECG, os padrões de normalidade e as principais alterações que podem ser identificadas. Além disso, vamos fornecer dicas práticas e ferramentas úteis para facilitar a interpretação do ECG.
Anatomia do coração
Antes de adentrar na interpretação do ECG, é importante compreender a anatomia do coração. O coração é um órgão muscular oco, localizado no centro do tórax, responsável por bombear o sangue para todo o corpo.
Ele é dividido em quatro cavidades principais: átrios (superiores) e ventrículos (inferiores). A contração e o relaxamento coordenados dessas cavidades são controlados pela atividade elétrica gerada pelo sistema de condução cardíaca.
Representação gráfica do eletrocardiograma
O eletrocardiograma é um exame não invasivo que registra a atividade elétrica do coração por meio de eletrodos fixados na pele do paciente. O resultado é uma representação gráfica que mostra a variação da voltagem elétrica ao longo do tempo, em diferentes derivações e segmentos do coração. Cada onda e intervalo do ECG corresponde a uma fase específica do ciclo cardíaco.

Padrões de normalidade e principais alterações
Para interpretar corretamente um ECG, é essencial conhecer os padrões de normalidade e estar atento às possíveis alterações que podem ser identificadas.
Alguns exemplos incluem:
- Onda P: representa a despolarização dos átrios.
- Complexo QRS: indica a despolarização dos ventrículos.
- Intervalo QT: reflete o tempo total de despolarização e repolarização ventricular.
- Segmento ST: avalia possíveis lesões isquêmicas ou infartos agudos do miocárdio.
Eletrocardiograma normal.
Interpretação prática do ECG
Para facilitar a interpretação do ECG, é importante seguir uma abordagem sistemática, observando os seguintes passos:
Verificar a qualidade do traçado e a posição dos eletrodos.
Identificar a frequência cardíaca (FC) e verificar a presença de ritmo regular ou irregular.
Avaliar a onda P, o complexo QRS e o segmento ST em todas as derivações.
Comparar o traçado com o ECG de referência e considerar possíveis diagnósticos diferenciais.
Checklist
Frequência cardíaca: Medição dos batimentos por minuto (bpm).
Ritmo cardíaco: Análise para identificar se o ritmo é sinusal (normal) ou se há arritmias.
Eixo elétrico do coração: Avaliação da direção do vetor elétrico principal do coração, que pode indicar desvio do eixo.
Intervalo PR: Tempo entre o início da onda P e o início do complexo QRS, que reflete a condução pelo nó atrioventricular.
Intervalo QT e QTc: Duração do ciclo elétrico ventricular; o QT corrigido (QTc) leva em conta a frequência cardíaca.
Onda P: Observação da morfologia e duração para identificar problemas atriais.
Complexo QRS: Análise da amplitude, duração e morfologia das ondas Q, R e S, indicando a despolarização ventricular.
Segmento ST: Avaliação de elevação ou depressão, que pode indicar isquemia ou infarto.
Onda T: Avaliação da morfologia e simetria; alterações podem indicar problemas de repolarização ventricular.
Onda U: Verificação de presença (geralmente discreta), que pode estar associada a alterações eletrolíticas.
Análise das derivações: Avaliação de cada uma das derivações (DI, DII, DIII, aVR, aVL, aVF e precordiais V1-V6) para identificar alterações específicas.
Alterações patológicas: Procura por sinais de hipertrofia ventricular, bloqueios de ramo, pré-excitação e outros achados patológicos.
Na prática
Frequência cardíaca:
Calcule a frequência em batimentos por minuto (bpm) medindo a distância entre os picos de duas ondas R consecutivas.
Para um ECG padrão a 25 mm/s, use a fórmula: Frequência (bpm) = 1500 / nº de quadradinhos pequenos entre duas ondas R.
Ritmo cardíaco:
Verifique se cada onda P é seguida por um complexo QRS, indicando ritmo sinusal.
Avalie a regularidade dos intervalos RR (distância entre picos das ondas R); intervalos consistentes indicam ritmo regular.
Calcule o eixo elétrico usando as derivações DI e aVF.
Observando o complexo QRS nas derivações, determine se o eixo está normal (entre -30º e +90º) ou desviado.
Intervalo PR:
Meça o intervalo desde o início da onda P até o início do complexo QRS.
Intervalo normal está entre 120 e 200 ms (3-5 quadradinhos pequenos).
Intervalo QT e QTc:
Meça o intervalo desde o início do complexo QRS até o final da onda T.
Calcule o QT corrigido (QTc) para a frequência cardíaca, usando fórmulas como a de Bazett: QTc = QT / √(RR).
Onda P:
Verifique a presença e a morfologia da onda P, especialmente em DII e V1.
Onda P bifásica ou aumentada pode indicar sobrecarga atrial direita ou esquerda.
Complexo QRS:
Meça a duração do complexo QRS (normalmente <120 ms).
Avalie a amplitude e morfologia nas derivações precordiais; ondas R altas em V5 e V6 podem indicar hipertrofia ventricular esquerda.
Segmento ST:
Verifique o ponto J (final do QRS e início do ST) e observe se o segmento ST está elevado ou deprimido em mais de 1 mm em duas derivações contíguas, o que pode sugerir isquemia ou infarto.
Eletro com supra de ST.
Onda T:
Observe a simetria e a direção da onda T em relação ao QRS.
Ondas T invertidas ou simétricas podem indicar isquemia, especialmente em derivações precordiais.
Onda U:
Normalmente discreta e visível em V2 a V4.
Onda U proeminente pode estar associada a hipocalemia ou bradicardia.
Análise das Derivações:
Avalie cada derivação para padrões específicos.
Derivações DI, aVL, V5 e V6: avalie o lado esquerdo do coração.
Derivações DII, DIII e aVF: observe o aspecto inferior.
Derivações precordiais (V1-V4): avalie o septo e ventrículo direito.
Alterações Patológicas:
Hipertrofia ventricular: QRS alto em V5/V6 para hipertrofia ventricular esquerda e padrão S1Q3T3 em hipertrofia ventricular direita.
Bloqueios de ramo: QRS com duração ≥120 ms e morfologias específicas (rSR’ em V1 para bloqueio de ramo direito e padrão rS em V6 para bloqueio de ramo esquerdo).
Pré-excitação: Identificação de ondas delta (complexo QRS com início ascendente em rampa) sugere presença de feixe acessório.
Ferramentas úteis para interpretação do ECG
Para auxiliar na interpretação do ECG, existem várias ferramentas e recursos disponíveis, como:
- Livros e manuais de ECG com exemplos e casos clínicos.
- Calculadoras de eixo elétrico para entender melhor qual o vetor elétrico cardíaco.
- Aplicativos e softwares especializados em análise e interpretação do ECG.
- Cursos de capacitação e treinamento em eletrocardiografia.