Síndrome coronariana aguda (SCA): diagnóstico, classificação e tratamento
Atualizado: 13 de nov. de 2024
Conduta imediata
A síndrome coronariana aguda (SCA) é um conjunto de condições clínicas causadas pela obstrução súbita ou redução significativa do fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco (miocárdio), que pode levar a infarto do miocárdio e até a morte súbita.
Essas condições são consideradas emergências médicas e requerem diagnóstico e tratamento rápidos para minimizar danos ao coração e melhorar o prognóstico do paciente.
O que é a síndrome coronariana aguda?
A SCA é desencadeada pela ruptura ou erosão de uma placa aterosclerótica nas artérias coronárias, levando à formação de um trombo (coágulo sanguíneo) que obstrui o fluxo de sangue para o miocárdio.
Essa interrupção do fluxo sanguíneo resulta em isquemia (falta de oxigênio) nas células cardíacas, causando dor no peito e danos ao tecido cardíaco.
As principais condições que compõem a SCA incluem:
Angina instável: Caracteriza-se por dor no peito que ocorre de forma imprevisível, sem uma causa específica, e que não é aliviada com repouso. A angina instável é um sinal de alerta de que a obstrução nas coronárias está piorando.
Infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAM com supra de ST): Também conhecido como infarto com elevação do ST, é uma condição em que o fluxo sanguíneo para uma parte do miocárdio é interrompido por um tempo prolongado, resultando em dano extenso ao músculo cardíaco.
Infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAM sem supra de ST): Neste tipo de infarto, o fluxo sanguíneo para o miocárdio também é prejudicado, mas de forma parcial, causando dano menos extenso.
Fatores de risco para a síndrome coronariana aguda
Os principais fatores de risco para SCA são os mesmos da aterosclerose e incluem:
Idade: O risco aumenta com o envelhecimento.
Histórico Familiar: Parentes de primeiro grau com doenças cardíacas prematuras.
Hipertensão Arterial: A pressão alta danifica as artérias ao longo do tempo.
Diabetes Mellitus: Níveis elevados de glicose no sangue favorecem o desenvolvimento de aterosclerose.
Colesterol Alto: LDL elevado e HDL baixo aumentam o risco de formação de placas ateroscleróticas.
Tabagismo: O tabaco danifica as artérias e promove a formação de coágulos.
Sedentarismo e Obesidade: A falta de atividade física e o excesso de peso contribuem para os fatores de risco metabólicos.
Sintomas da síndrome coronariana aguda
Os sintomas da SCA podem variar, mas o mais característico é a dor torácica. Outros sinais e sintomas incluem:
Dor ou desconforto no peito: A dor é frequentemente descrita como uma sensação de pressão, aperto ou queimação no centro do peito.
Irradiação: A dor pode irradiar para o braço esquerdo, pescoço, mandíbula, costas ou abdome.
Falta de ar: Muitas vezes acompanhada de dor torácica, especialmente em casos de IAM.
Suor frio e palidez: Sintomas de emergência que indicam uma resposta do corpo ao estresse cardíaco.
Náuseas e vômitos: Sintomas menos comuns, mas que podem ocorrer, especialmente em mulheres e pacientes diabéticos.
Tontura e fadiga: Sintomas mais comuns em idosos e diabéticos.
Diagnóstico da SCA
O diagnóstico da SCA envolve avaliação clínica, exames laboratoriais e exames de imagem. A rapidez no diagnóstico é essencial para que o tratamento seja iniciado o mais breve possível.
1. Eletrocardiograma (ECG)
O ECG é o primeiro exame realizado em pacientes com suspeita de SCA.
Ele permite identificar alterações no segmento ST, como elevação ou depressão, além de outras anormalidades que indicam isquemia miocárdica.
IAM com supra de ST: Caracteriza-se pela presença de elevação do segmento ST no ECG, indicando oclusão total de uma artéria coronária.
IAM sem supra de ST: Não apresenta elevação do segmento ST, mas pode mostrar depressão do ST ou inversão da onda T.
2. Marcadores de Necrose Miocárdica
Os marcadores cardíacos, como troponina e CK-MB, são essenciais para o diagnóstico de infarto do miocárdio, pois indicam lesão e necrose do músculo cardíaco.
Troponina: É o marcador mais específico e sensível para o diagnóstico de infarto. Níveis elevados confirmam dano ao miocárdio.
CK-MB: Menos específico que a troponina, mas também usado para avaliar lesão cardíaca.
3. Exames de Imagem
Ecocardiograma: Útil para avaliar a função do coração e a presença de áreas de hipocinesia (movimento reduzido), acinesia (ausência de movimento) ou discinesia (movimento anormal) do miocárdio.
Angiografia coronariana (Cateterismo): Considerada o padrão-ouro para avaliar a obstrução coronariana. Pode identificar a localização e a extensão da obstrução, permitindo o planejamento de intervenções.
Classificação
A classificação da SCA em angina instável, IAM sem Supra ST e IAM com Supra ST é essencial para orientar o tratamento.
A gravidade e o tipo de tratamento variam conforme a presença ou ausência de elevação do ST e dos sintomas.
Angina instável: Indica isquemia sem lesão miocárdica. O tratamento é voltado para aliviar a isquemia e prevenir a progressão para infarto.
IAM sem supra de ST: Há isquemia e lesão miocárdica sem elevação do ST, indicando obstrução parcial. Exige tratamento intensivo com medicamentos e, muitas vezes, intervenção percutânea.
IAM com supra deST: Indica uma obstrução total e extensa do fluxo sanguíneo para o miocárdio. Requer tratamento imediato, geralmente com angioplastia ou trombólise.
Tratamento
O tratamento da SCA varia conforme o tipo de síndrome (com ou sem elevação do ST) e a condição clínica do paciente.
As abordagens incluem medicamentos, procedimentos de intervenção e mudanças no estilo de vida.
1. Tratamento medicamentoso
Os principais medicamentos utilizados na SCA incluem:
Antiagregantes plaquetários: Como o ácido acetilsalicílico (AAS) e o clopidogrel, que ajudam a reduzir a formação de coágulos sanguíneos.
Anticoagulantes: Como a heparina ou enoxaparina, que evitam a formação de novos coágulos.
Betabloqueadores: Reduzem a frequência cardíaca e o consumo de oxigênio do miocárdio, aliviando a isquemia.
Estatinas: Reduzem os níveis de colesterol e estabilizam placas ateroscleróticas, ajudando na prevenção de novos eventos.
Nitratos: Usados para aliviar a dor torácica e melhorar o fluxo sanguíneo coronário.
Inibidores da ECA/Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina II: Auxiliam na redução da pressão arterial e melhoram a função cardíaca.
2. Intervenções Invasivas
Em casos de IAM com Supra ST, é necessário restaurar o fluxo sanguíneo rapidamente para reduzir o dano ao miocárdio.
As principais intervenções incluem:
Angioplastia coronariana (Intervenção coronária percutânea - ICP): Procedimento de escolha para IAM com Supra ST. A ICP é realizada para desobstruir a artéria afetada e, geralmente, inclui a colocação de um stent para manter a artéria aberta.
Terapia fibrinolítica (Trombólise): Em situações onde a angioplastia não é possível ou está indisponível, a trombólise pode ser usada para dissolver o trombo na artéria coronária. No entanto, este tratamento é mais eficaz se administrado nas primeiras horas após o início dos sintomas.
3. Revascularização cirúrgica (Cirurgia de revascularização do miocárdio - CRM)
A cirurgia de revascularização é indicada para pacientes com múltiplas obstruções coronarianas ou quando a angioplastia não é possível.
A CRM consiste em criar um desvio ao redor das artérias obstruídas, utilizando enxertos de veias ou artérias para melhorar o fluxo sanguíneo para o coração.
Cuidados Pós-SCA e prevenção secundária
Após o tratamento agudo, é crucial implementar estratégias de prevenção secundária para evitar novos eventos cardíacos.
As principais recomendações incluem:
Mudanças no estilo de vida:
Parar de fumar
Adotar uma dieta equilibrada e rica em frutas, vegetais e gorduras saudáveis
Praticar atividade física regular
Adesão ao tratamento medicamentoso:
Uso contínuo de estatinas, betabloqueadores, antiagregantes plaquetários e outros medicamentos prescritos pelo cardiologista.
Acompanhamento médico regular:
Consultas frequentes para monitorar fatores de risco, realizar exames de acompanhamento e ajustar a medicação, conforme necessário.
Controle de fatores de risco:
Manter a pressão arterial e a glicemia sob controle e monitorar os níveis de colesterol.
Prognóstico da síndrome coronariana aguda
O prognóstico da SCA depende da rapidez do diagnóstico e do tratamento, do tipo de SCA, da extensão da lesão miocárdica e das comorbidades do paciente.
Pacientes que recebem tratamento adequado e aderem às recomendações médicas têm um prognóstico significativamente melhor e menor risco de novos eventos cardíacos.
A síndrome coronariana aguda é uma emergência médica que exige ação rápida e tratamento personalizado para preservar a função cardíaca e salvar vidas.
Com o diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica integrada, incluindo medicamentos, procedimentos de intervenção e mudanças no estilo de vida, é possível controlar a SCA e prevenir complicações a longo prazo.
Referências: ACLS e ECG e Estudos Cardíacos - Dados essenciais com base em evidências para achados clínicos, Anil M. Patel.